quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Metapost anti-rotina

Mundo cão é algo triste. As decisões tão cada vez mais rápidas, o ritmo de vida cada vez mais sufocante, o tempo livre cada vez menos livre, os sapatos cada vez mais apertados e as cobranças cada vez mais alcançando a casa dos três dígitos de decibéis. Ao menos da maneira que elas ecoam na mente de quem ouve, apesar delas às vezes serem ditas com a delicadeza de alguém que não quer que mal-entendidos ocorram nas relações hierárquicas dentro da corporação. Isso porque as mentes das pessoas estão cada vez mais cansadas. Talvez cansada não seja a palavra correta, possivelmente DESGASTADA seja a palavra da ocasião.

A pressão em cima da hesitação alheia é cada vez mais uma arma de quem tenta livrar o corpo da responsabilidade que lhe cabe. E nem sempre isto é hesitação de fato, é pura e simplesmente o processo de construção de um pensamento lógico mais intrincado, coisa que leva tempo. O problema é que o que está em voga são as decisões rápidas, as pessoas de ação imediata, a solução num piscar de olhos. E isto é muito fácil quando todos os pensamentos em cima destas decisões já são algo previamente pensado por alguém que teve mais tempo pra isso. Me refiro a grandes pensadores da História, em todas as suas instâncias, seja em áreas exatas, filosóficas, biológicas, o que for. Agora eu pergunto: o que aconteceria a estas "pessoas de ação" se elas tivessem que pressupor todo um raciocínio que desse o pretexto final que guia as suas decisões? Pois muita gente que tenta elevar a sua mente acaba sendo sufocada por estas pessoas, que na verdade nada mais são que consumidores de pensamentos enlatados.

Bom, onde este jogo vai parar? Vai parar em um lugar onde as pessoas acabam esquecendo a essência daquilo que elas vivem. Os "homens de ação" acabam se sobressaindo com seus pensamentos em conserva dentro das suas corporações, acabando por puxar o ritmo do resto dela através da velocidade que estes pensamentos já foram (previamente, e não por eles) mastigados e empurrando os subordinados para este ritmo, cada vez mais reduzindo o tempo com que eles se permitem pensar na natureza do que estão fazendo. Isto gera uma falta de propósito, em boa parte dos casos, fazendo com que a atividade na qual elas se envolvem acabe virando um mero protocolo, e desmotivando quem a deve executar, a não ser pelo simples fato da subsistência.

Mas tudo isso que falo é em termos da grande massa que acabou sendo engolido pelo caos, pela bola de neve. Poucos são os que se esquivam. Inclusive, na verdade, este sistema não se aplica somente a um sistema corporativo, ele acaba se arrastando na maior parte das relações humanas, o que acaba gerando um grande círculo vicioso. E como eu falei agora a pouco, poucos são os que se esquivam. E quando se esquivam, é porque se tocam de que o primeiro lugar onde é possível quebrar este círculo vicioso é o próprio pensamento. Um instinto coletivo nunca muda se as pessoas que fazem parte dele não mudarem uma a uma. E alguma hora, algum insatisfeito há de ser o primeiro. Mesmo que não obtenha sucesso, quem realmente quer algo não desiste, e assim as tentativas se sucedem.

Pra finalizar, pergunto:
onde você se sente melhor? Sendo mais um ponto monocromático no meio da massa cinzenta, ou sendo um ponto colorido diferenciado?
No fim, também ninguém é obrigado a sair da sua zona de conforto para lutar en la revolución. Porque para quem realmente preza por ela, a própria revolução é a zona de conforto. Lugar no mundo há para todos.

"A rotina é como uma planta carnívora. Você alimenta ela por muito tempo, e no fim, ela acaba por te engolir."