sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pensamento vagabo do dia, número 4.192/11. Gravando.



Hoje eu estava ouvindo o Pretinho Básico, um programa de rádio que passa aqui no sul (fantástico, por sinal). Ele funciona como uma velha e boa mesa de bar, onde nos reunimos pra contar piadas, conversar das novidades, falar de tudo e todos, assuntos sérios e outros nem tanto. É um programa onde a mesa redonda dele é majoritariamente homens, e como tal ambiente nesta ocasião, muitas vezes a abordagem é absolutamente machista, mas levando para um tom mais humorístico, onde no fundo (mas lá no fundo MESMO), este machismo não é propriamente a opinião definitiva dos apresentadores. Neste programa, em uma das edições, um homossexual convicto fez parte da mesa. Como se tratava de uma novidade pras pessoas da mesa, e na obrigação implícita de explorar esta novidade, o teor das perguntas feitas a ele era o mais clichê possível. Claro, mantendo o clima amistoso, afinal quem estava ouvindo e tinha o mínimo de espírito esportivo sabia que no fim, era tudo em tom de piada. Pois que era uma quebra de tabu e um exercício de tolerância com as diferenças.

Tolerância

s. f.

1. Condescendência ou indulgência para com aquilo que não se quer ou não se pode impedir.

2. Boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas.

3. Med. Faculdade ou aptidão que o organismo dos doentes apresenta para suportar certos medicamentos.

(definição: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)

Pois, tolerância é algo que precisa ser exercitado para ser aplicada em sua plenitude. E como todo exercício, é preciso uma preparação prévia para tal. Mas a preparação para exercitar um valor de caráter é algo mais complexo do que um simples exercício de conteúdo didático, por exemplo. Pois esta preparação normalmente envolve outros aspectos de caráter que devem ser pressupostos a ele e que muitas vezes são trabalhosos demais de se atingir para alguns indivíduos. É a questão de ser um valor óbvio em sua essência, mas que a vida atual em sociedade deturpa dia após dia; coisas assim costumam ser mais dificilmente detectadas do que aquilo que costuma se esconder dos olhos vistos. É aquilo que está na frente do nosso nariz, mas não se acha justamente por estar em um lugar óbvio demais para ser procurado.

Quem bota a mão na consciência e se pergunta “porque diabos eu não gosto das coisas que não gosto, afinal de contas?” fatalmente acaba esbarrando em um ponto comum entre todas estas coisas: INSEGURANÇA ACERCA DA PRÓPRIA VISÃO DE MUNDO. A velha e ingrata sensação de que tudo que gostamos pode acabar em um piscar de olhos, na simples visão da antítese da própria convicção. É um sentimento que beira a hipocondria, onde a crença de que o simples contato com o outro lado da moeda acaba por transmitir o vírus da oposição. Juntando o fato de que, contrariando a lei de Murphy (até por questão de sobrevivência atualmente), no final das contas acreditamos que nossa grama sempre é mais verde que a do vizinho. É tanto trabalho pra juntar pensamentos e criar uma visão de mundo que conhecer uma simples opinião oposta pode atrair o sentimento de que aquilo deve ser combatido, para não precisar reformular tudo. É uma questão de comodismo.

Mas quando se usa o bom senso e o raciocínio lógico ao se levantar as ditas questões imparcialmente, as coisas não se tornam tão drásticas, ao menos a princípio. É uma simples questão de ponderação. PENSAR É O PRIMEIRO PASSO. Pensar no que acreditamos ser bom, ver os prós e os contras das opiniões e no final, fazer o balanço daquilo que nos cabe. E não seria vergonhoso no fim acabar mudando de opinião, aceitar o outro lado da moeda, assim como não seria vergonhoso manter a opinião atual. E ainda há a possibilidade de se chegar ao meio-termo. Afinal, feito o balanço, seja qual for o lado que a moeda caiu, acaba se tratando de algo que nos é caro. E a vida continua.

Passada a etapa de se assegurar daquilo que se crê, há de se levar em conta que não somos as únicas pessoas do mundo com opinião própria. Geralmente aí mora o perigo, pois no fim, dorme dentro de cada ser humano uma fagulha de espírito reacionário, vindo justamente da tendência de seguirmos a lei do menor esforço, como dito anteriormente. E isto é algo a ser dominado, é um exercício diário, contrariar a tendência a seguir a inércia de pensamento.

Socialmente falando, a tendência a não aceitar as diferenças tem outra causa crucial e também inerente à natureza humana: MEDO. Medo da solidão. Medo da morte. Medo de perder a identidade. É fato de que a grande maioria destes medos tem uma causa absolutamente infundada, beirando a hipocondria, como já citado. Afinal de contas, voltando à definição de tolerância, há muita coisa na vida a qual simplesmente é impossível impedir. É impossível impedir a morte, por exemplo. Mas o mundo está cheio de crenças que prometem a vida eterna. Uma vida que se segue após a vida atual. E quem não consegue condescender ao fato de que um dia vai morrer acaba por cair nesta armadilha. E esta armadilha avança, prometendo um pós-vida com todas as regalias disponíveis a quem se presta a seguir os preceitos da crença e uma pós-vida com todos os sofrimentos e agonias que alguém pode passar aos infiéis. Trocando em miúdos, é um método de manipulação de atitudes e pensamentos baseado na intolerância que certas pessoas têm à idéia de que vão morrer um dia. E elas vão. Ninguém pode parar isso. A carne é fraca. A morte é tão parte da vida quanto ela própria. (a propósito: CRISTIANISMO E DERIVADOS E ISLAMISMO, SIM, ESTOU OLHANDO PARA VOCÊS!)

Se há algo que sintetize estas mal-escritas linhas, se trata do fato de que o exercício à tolerância se trata de um exercício de respeito à vida. Afinal, quando cometemos a indulgência à diferença, deixamos que o oposto viva em paz. Uma opinião contrária não é uma opinião contrária ambulante, e sim um conjunto todo de experiências de vida, muito provavelmente com algumas em comum. O que, no fim das contas, pode acabar por trazer experiências agradáveis de onde menos se imagina que venham...



...pensamento vagabo do dia, número 4.192/11. Câmbio e desligo.

E tome Soundgarden pra pensarmos nos nossos medos.

http://www.youtube.com/watch?v=3mbBbFH9fAg

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Metapost anti-rotina

Mundo cão é algo triste. As decisões tão cada vez mais rápidas, o ritmo de vida cada vez mais sufocante, o tempo livre cada vez menos livre, os sapatos cada vez mais apertados e as cobranças cada vez mais alcançando a casa dos três dígitos de decibéis. Ao menos da maneira que elas ecoam na mente de quem ouve, apesar delas às vezes serem ditas com a delicadeza de alguém que não quer que mal-entendidos ocorram nas relações hierárquicas dentro da corporação. Isso porque as mentes das pessoas estão cada vez mais cansadas. Talvez cansada não seja a palavra correta, possivelmente DESGASTADA seja a palavra da ocasião.

A pressão em cima da hesitação alheia é cada vez mais uma arma de quem tenta livrar o corpo da responsabilidade que lhe cabe. E nem sempre isto é hesitação de fato, é pura e simplesmente o processo de construção de um pensamento lógico mais intrincado, coisa que leva tempo. O problema é que o que está em voga são as decisões rápidas, as pessoas de ação imediata, a solução num piscar de olhos. E isto é muito fácil quando todos os pensamentos em cima destas decisões já são algo previamente pensado por alguém que teve mais tempo pra isso. Me refiro a grandes pensadores da História, em todas as suas instâncias, seja em áreas exatas, filosóficas, biológicas, o que for. Agora eu pergunto: o que aconteceria a estas "pessoas de ação" se elas tivessem que pressupor todo um raciocínio que desse o pretexto final que guia as suas decisões? Pois muita gente que tenta elevar a sua mente acaba sendo sufocada por estas pessoas, que na verdade nada mais são que consumidores de pensamentos enlatados.

Bom, onde este jogo vai parar? Vai parar em um lugar onde as pessoas acabam esquecendo a essência daquilo que elas vivem. Os "homens de ação" acabam se sobressaindo com seus pensamentos em conserva dentro das suas corporações, acabando por puxar o ritmo do resto dela através da velocidade que estes pensamentos já foram (previamente, e não por eles) mastigados e empurrando os subordinados para este ritmo, cada vez mais reduzindo o tempo com que eles se permitem pensar na natureza do que estão fazendo. Isto gera uma falta de propósito, em boa parte dos casos, fazendo com que a atividade na qual elas se envolvem acabe virando um mero protocolo, e desmotivando quem a deve executar, a não ser pelo simples fato da subsistência.

Mas tudo isso que falo é em termos da grande massa que acabou sendo engolido pelo caos, pela bola de neve. Poucos são os que se esquivam. Inclusive, na verdade, este sistema não se aplica somente a um sistema corporativo, ele acaba se arrastando na maior parte das relações humanas, o que acaba gerando um grande círculo vicioso. E como eu falei agora a pouco, poucos são os que se esquivam. E quando se esquivam, é porque se tocam de que o primeiro lugar onde é possível quebrar este círculo vicioso é o próprio pensamento. Um instinto coletivo nunca muda se as pessoas que fazem parte dele não mudarem uma a uma. E alguma hora, algum insatisfeito há de ser o primeiro. Mesmo que não obtenha sucesso, quem realmente quer algo não desiste, e assim as tentativas se sucedem.

Pra finalizar, pergunto:
onde você se sente melhor? Sendo mais um ponto monocromático no meio da massa cinzenta, ou sendo um ponto colorido diferenciado?
No fim, também ninguém é obrigado a sair da sua zona de conforto para lutar en la revolución. Porque para quem realmente preza por ela, a própria revolução é a zona de conforto. Lugar no mundo há para todos.

"A rotina é como uma planta carnívora. Você alimenta ela por muito tempo, e no fim, ela acaba por te engolir."

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sheppard. (parte 1 de ?)

Vou começar hoje a contar a história de Sheppard, um carneiro muito esperto aprontando todas com seus amigos super divertidos em busca de sua liberdade [/Sessão da Tarde]
A propósito, eu ainda tou escrevendo a história, então não sei quantas partes vai ter essa bagaça :P

A propósito [2], resenhas de CDs, só nos fins de semana. É quando eu tenho tempo de ouvir os CDs acompanhando as letras (inglês ruim é tenso).

Era uma vez um carneirinho. Ele era apenas parte do grande rebanho que habita o cercadinho que todo insone possui em sua cabeça, saltitante como todos, circundado de lã como todos, tão ou mais caprino quanto todos os outros. Poderia muito bem servir como uma ovelha-bomba em um sonho que envolva uma partida de Worms. Mas aquele não era um carneiro comum. Apesar de todas as semelhanças com os outros semelhantes da sua espécie, ele tinha o que nenhum dos outros tinha: vontade própria. Sim, aquele carneiro tinha aspirações, tinha planos para uma vida inteira, tinha castelos de areia construídos, e pretendia muito bem cimentá-los. O único problema é que ele não conseguia se libertar da sua rotina de ajudar pessoas insones a enfim pegar no sono. E sem descanso, uma vez que, quando alguém pega no sono, há de se considerar que no mundo, haja outra pessoa insone precisando de apoio para dormir, e lá ia o pobre carneiro pular por cima da cerca novamente. 24h por dia fazendo a mesma coisa, pulando cercas. Uma rotina que seria invejada por maridos entediados, mas não é o caso.

O principal objetivo do carneiro no qual narro a sorte era simples: se tornar um carneiro de carne e osso, para em seguida espalhar a concórdia na sua espécie, tirá-los da alienação dos cercados e fundar uma classe forte, tão forte quanto pudesse, para enfim se livrar da subjugação da mão humana no mundo real, onde seus camaradas eram submetidos ao rigoroso frio do inverno sem sua manta de lã, quando tosquiados, isso quando não viravam carne para alimentar as bocas imundas e maledicentes dos homens que os carneavam. Ao menos era esta visão do mundo real que Sheppard (o nome que o carneiro se atribuía, uma vez que todos os carneiros do cercado dos sonhos não tinham nome, afinal, não precisavam) tinha, de acordo com sua literatura, pois Sheppard sempre foi alguém muito interessado e estudioso das coisas do mundo carnal. Afinal de contas, enquanto se está na fila esperando dua vez de pular a cerca, há um tempo suficiente, que Sheppard usava para adquirir sua cultura, e espalhar aos camaradas na fila, que incrédulos, só respondiam com balidos sarcásticos.

Pois em uma destas filas, enquanto folheava um livro de Porcoievsky, formulando uma maneira de transcender a barreira da imaterialidade, Sheppard foi cutucado nas costas. Virou para ver quem estava lhe chamando, mas foi apenas o tempo de perceber que estava sendo carregado, e a toda velocidade, por um lobo, e então começou a balir com todo o desespero que podia ter. Cessada a corrida, atrás de uma moita, aonde Sheppard foi amordaçado e imobilizado, o lobo se abaixa, e abre um zíper de cima a baixo em seu corpo, revelando que aquilo na verdade só se tratava de uma pele de lobo, dentro de onde estava uma senhora de aparência doce e frágil, que em seguida desamarrou e desamordaçou Sheppard.

- Quem é você? perguntou Sheppard. E porque me amordaçou?
- Filho, te amarrei pra que você não corresse de mim até que eu lhe explique o que eu tenho pra te contar, aquela pele de lobo foi o único disfarce que eu consegui. Repara não, mas eu já tava de saco cheio do Lobo Mau querendo me comer, então tive que fazer justiça com as próprias mãos.
- ESPERA! Você é...
- Sim, filho, sou a avozinha da Chapeuzinho Vermelho!
- Mas...
- Repara não, mas depois da primeira vez que o Lobo Mau me comeu, acabei virando lésbica. Mas quem disse que ele ligava?
- Uff, menos mal. Ele queria porque queria me comer à força também, mesmo sabendo que sou espada. Mas enfim, porque essa zona toda só pra falar comigo?
A doce senhora abriu sua bolsa, pegou uma toalha xadrez e estendeu no chão, sentando-se em cima. Sheppard sentou-se ao lado, enquanto a velhota enrolava um baseado e começava sua narrativa.

- Olha, o motivo que eu tenho é muito simples. Eu já tou velha, tou querendo me aposentar, tou querendo comer algo diferente das coisas que a Chapéu me trazia na cesta de doces dela. Olha, até banguela eu tou, na época ainda não existia pasta de dentes, e eu lá comendo os mesmos doces todo dia, não deu outra: quase tive um abcesso, pra não falar das cáries. O Lenhador sofria com o meu bafo na época que a gente namorou, que Deus o tenha. Então, tudo que eu quero é um fim de vida, mas que seja um fim de vida decente. (a senhora dá uma tragada no baseado já aceso, passando ele pro Sheppard) PFfff... CAHAAM! Desculpa. Mas enfim, queria poder descansar em paz enfim. As crianças do mundo não gostam mais da história da minha neta, e eu ficando lá tomando conta da minha casa, no maior tédio. Aliás, falando da Chapéu, tem notícias dela?
- Não, afirmou Sheppard, não sei da Chapeuzinho Vermelho. Ela até costumava passar perto da cerca aonde eu pulo uma vez por semana, mas já tem umas 3 ou 4 vezes que não vi mais ela passando por lá.
- Imaginei que tu não soubesses da Chapeuzinho. E eu sei te dizer porque.


Continua na próxima parte, que sai sei lá quando.

domingo, 19 de julho de 2009

A Perfect Circle - Thirteen Step


O A Perfect Circle começou de uma maneira meio surreal. Durante a gravação do CD Ænima, do Tool, o guitarrista Billy Howerdel (que na ocasião era técnico de guitarra do Tool) estava no estúdio e mostrou uma música própria ao vocalista Maynard James Keenan. O cara simplesmente se ofereceu pra ser vocalista da futura banda, caso ele fosse gravar aquela música (na ocasião, a música era Orestes, do primeiro CD). E olha QUE VOCALISTA o Billy arrumou. Pois bem, então formou-se o A Perfect Circle, que hoje conta com, além dos dois, Billy Iha na guitarra, Jeordie White no baixo e Josh Freese na bateria.

Thirteen Step é o segundo CD dos caras, lançado em 2003. Já foi especulado que o nome do CD seria uma referência aos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, mas o próprio Maynard James Keenan desmentiu essa especulação, explicando que na verdade o CD se trata de um conceito montado em cima de vícios em geral, sob diferentes perspectivas, inclusive fazendo citações sobre os 13 anos em que ele morou em Los Angeles.

Sob esse ponto de vista, vou analisar as 12 músicas do CD.
1. "The Package" 7:40
2. "Weak and Powerless" 3:15
3. "The Noose" 4:53
4. "Blue" 4:13
5. "Vanishing" 4:51
6. "A Stranger" 3:12
7. "The Outsider" 4:06
8. "Crimes" (Howerdel/Keenan/Freese/White) 2:34
9. "The Nurse Who Loved Me" (Edwards/Andrews) 4:04
10. "Pet" 4:34
11. "Lullaby" 2:01
12. "Gravity" (Howerdel/Keenan/Freese/Van Leeuwen/Lenchantin) 5:08

(as que não foram citadas foram escritas por Howerdel/Keenan)

1 - The Package
Eu acreditava que a letra dessa música se referia à sexo casual, simplesmente. "Apenas me dê aquilo para o que vim, e então estarei porta afora novamente." Mas, de acordo com o conceito do Maynard, a música fala de pessoas que simplesmente vivem pra cumprir seus vícios, de uma maneira obsessiva, e depois de conseguir o objeto de desejo, mergulhar num estado de contemplação; dá pra comparar até com o Gollum, do Senhor dos Anéis - "me dê o que é meu... isto é meu... meu..." repetido incontáveis vezes, se não é uma referência ao Precioso, não sei o que é.
A música em si começa com um tema simples e singelo, com a bateria basicamente atacando tambores, dando um climão, e o baixo espalhado, esparso e pesado, até a música explodir quando num alto de desespero, o May grita "GIVE THIS TO ME!" (sim, MJK é um monstro da interpretação), quando enfim a música fica pesada e deliciosamente desesperada, pra voltar depois ao clima down do começo dela, terminando em fade-out... Pra mim, essa música é uma das melhores do CD, assim como Weak And Powerless, The Noose, A Stranger, The Outsider e Pet.

2 - Weak And Powerless
Sensações superficiais que no fim só te levam mais e mais pra baixo, e no fim tudo o que se pode fazer é se sentir fraco e impotente frente a essas sensações. E enfim, morrer por dentro.
"Anjinho, vá embora, volte outro dia,
O diabo está nos meus ouvidos agora, eu não vou ouvir uma palavra do que você disser,
Ele me prometeu um pequeno recanto e paz de espírito,
De qualquer jeito, tá demorando tanto que eu nem me sinto mais tão desesperado e desacolhido..."
A música é levada em moderato, sem grandes excessos, só com um tempo quebrado e backing vocals na medida também nos refrões.

3 - The Noose
Quem está no fundo do poço e vê alguém próximo se erguer não tende a seguir o exemplo, e sim puxar o tapete do "amigo". Claro, tudo isso sem a mínima vergonha de tentar disfarçar a verdadeira intenção, porque afinal de contas, é mais fácil se conformar com uma condição preguiçosamente baixa do que tentar se reerguer.
"E não é querer arrancar sua auréola fora através do seu pescoço e te empurrar até o chão, mas estou apenas mais do que um pouco curioso, pensando em como você vai fazer agora seu tributo aos mortos..."
Essa música já mostra o lado psicodélico do APC, com timbres mais trabalhados, delays, efeitos de modelação, e uma interpretação de voz nada mais que a necessária. Simples, mas digno de uma viagem.

4 - Blue
Ignorar os efeitos prejudiciais, por mais gritantes que sejam. E fazer tudo parecer bom. Um otimismo doentio.
"Apenas ignore a fumaça e sorria.
Chame um otimista, ela está ficando azul (metáfora pra triste)
Mas que cor adorável fica em você"
A música tem a cor do tema: ela é mais alegre do que deveria ser. Talvez não seja, enfim.

5 - Vanishing
A simples reprodução da trip. Nada mais que isso. Sumir no ar, como se nada mais importasse. Um escapismo. Carpe diem, modafuckers.
"Esvanescer, esvanescer no ar
Lentamente desaparecer. Na verdade, nunca estive aqui."
A música é simplesmente etérea. Tudo vago, nada definido, tudo virando fumaça. Algumas coisas gritantes no meio da névoa toda.

6 - A Stranger
No fim de tudo, um estranho no ninho, com idéias desconexas, precisando ser convencido de que seu estado de espírito é nada mais que uma consciência fabricada.
"E eu escuto o sussurro da sua doce insanidade enquanto formulo negações de sua afeição por mim."
A música é uma lullaby acústica, com violinos de fundo, doce e com sabores épicos, e dura menos do que deveria durar.

7 - The Outsider
A visão de fora de quem se importa com alguém prestes à auto-destruição. Claro, de maneira dramática, cruenta e até mesmo raivosa.
"Se desconectar e se auto-destruir, com uma bala somente, qual é a pressa, se todo mundo tem seu dia pra morrer?
Se você escolheu puxar o gatilho, será que você provou que seu drama é sincero?
Faça isso em algum lugar bem longe daqui."
A música é pesada, tenta por vezes demonstrar alguma calma, algum auto-controle, mas sempre acaba explodindo, assim como a paciência de quem quer passar essa mensagem. Enfim, é uma maneira de injetar uma adrenalina no CD.

8 - Crimes
Fazer de tudo para alimentar o vício. Tudo mesmo. Mesmo que isso te custe a consciência limpa.
"Um... dois... três... quatro... cinco... seis... sete... oito... nove... nove... nove... nove... NOVE... dez... dez... DEZ... DEZ!!!"

9 - The Nurse Who Loved Me
Até no fundo do poço as pessoas precisam de calor humano. Seja de onde for. E por esse calor humano as pessoas fabricam as maiores fantasias.
"Estou levando ela pra casa comigo vestido todo de branco
Ela tem tudo que eu preciso, algumas pílulas em um copinho
Ela está fazendo tudo para mim, eu posso ver nos olhos dela
Ela age simplesmente como uma enfermeira para os outros caras..."

A música é um cover do Failure. Mas covers por covers, o A Perfect Circle sempre os transformou, os desfigurou, os transformou em qualquer coisa que não seja um cover. Neste caso, a música pareceu virar uma trilha de filme, naqueles momentos em que enfim o galã decadente descobre (mesmo que ilusoriamente) que a imagem que ele tem nos olhos é tudo que ele quer. Singela e bonita.

10 - Pet
"Amigos". Gente que na verdade te transforma em um trapo humano, te prometendo mundos e fundos, e acaba no fim te transformando num pequeno mascote.
"Não dê atenção ao que as outras vozes dizem, elas não se importam contigo como eu, assim como eu. Salvo da dor e da verdade e da escolha e de outros demônios venenosos, veja, eles não dão a mínima para você, mas eu sim."
Essa é a música mais pesada do CD. Talvez até por isso, pra mim a melhor. O vocal tem um tom que evoca um sarcasmo negro delicioso, e chega a despertar raiva.

11 - Lullaby
Tu não estás bem. Volta a dormir.
"Volta a dormir..."
Vozes femininas pretensiosamente desafinadas ganham o mundo.

12 - Gravity
Enfim, tua consciência é tua novamente. Tu estás limpo. O problema é que tu não estás mais se esvanescendo no ar, e tu tens que submeter novamente à gravidade. Às vezes esse é um processo custoso.
"Estou me rendendo à gravidade e ao desconhecido. Me segure, me cure, me levante novamente de volta ao sol. Eu escolhi viver. Eu escolhi viver."
A música tem um tema grandioso, mas ainda bambo. Porque enfim, nada está acabado. Talvez seja somente um novo começo.

http://www.youtube.com/watch?v=CpgHTAXpUOQ&feature=fvst - clipe de Weak And Powerless
http://www.youtube.com/watch?v=lrEP3RPgEao - Pet (a música somente)
http://www.youtube.com/watch?v=XoDAiqyvYqc - clipe de The Outsider
http://www.youtube.com/watch?v=O5xuY3OFHvA - clipe de Blue
http://www.youtube.com/watch?v=uXlKkzjkheg - The Outsider ao vivo
http://www.youtube.com/watch?v=R9Zmmpsrcto - The Noose ao vivo

E outros vídeos, procurem por conta, que não tou sendo pago pra isso :P
Saudações gremistas ae.

Post inaugural. Nada mais que isso.

Bom, ando com palavras sobrando na cabeça. E tou naqueles dias em que parece que ninguém vai entender os motivos que tenho pra estar como estou. Sabe, aquela sensação que alguma coisa realmente não vai bem. Mas aparentemente, tá tudo como tava antes. Só as coisas que se passam pela minha mente que ganharam um aspecto mais dark mesmo. Ou talvez teja faltando novidade na minha vida. Afinal de contas, vivemos por conta das nossas sensações. E não mintam pra si mesmos dizendo que isso não é verdade. Até porque tem gente que vai tentar se enganar ao tentar pensar o contrário, logo em seguida atribuindo uma sensação respectiva a essa auto-enganação. Sinto dizer, mas nisso eu tenho que concordar com Dostoievsky: vivemos de contrastes. Se alguma coisa boa existe, é porque existe algo ruim, na mesma instância, pra fazer contraponto, e ambas as coisas são necessárias. Bem e Mal, Grêmio e Internacional. A princípio, necessariamente nessa ordem :P

Maaaaaaaas, precisamos de alguma coisa pra alimentar essas sensações. E como MÚSICA sempre foi uma das coisas que mais precisei fazer presente na minha vida (ou ao menos ela tem o poder de me tirar da minha indiferença, que é meu estado de espírito em standby), vou tentar desovar um pouco do que se passa nessa jukebox ambulante e semi-calva que é a minha cabeça. Eu acredito que a música seja o combustível da alma. Enfim, tem gente que abastece em posto piratão, tem gente que só abastece com gasolina mais aditivada que minhas Coca-Colas que tomo em Torres, mas enfim, me chamem de Total Flex. Bem regado a álcool, é verdade, mas Total Flex assim mesmo xD

Então, nos próximos posts, vou fazer umas resenhas de alguns álbuns que acho que valham uma, duas, ou até três horas da atenção de alguém, ou ao menos um fundo sonoro pra alguma ocasião especial, ou simplesmente que sirvam pra transformar os sons da rua em um simples borrão sonoro pelos fones de ouvido, afinal de contas, andar pelas ruas simplesmente ouvindo as coisas que se passam por ela em geral é um tédio só.

De qualquer jeito, são dicas. Elas podem ser seguidas ou não. O que é bom pra mim não é necessariamente o conceito de "BOM". Afinal de contas, mentes diferentes estimuladas da mesma maneira produzem sensações diferentes. Talvez parecidas, talvez próximas de alguma semelhança, mas sempre diferentes. Boas ou ruins, talvez isso não importe. Como eu falei, ambas as coisas são necessárias, pensando dualisticamente, e porque não, até de maneira simplista. (aliás, simplicidade: bom mote pra um futuro post) O que importa é que essas sensações vão acontecer, o que basta pra sair da indiferença. Água parada não move moinho. E se o mundo não é um moinho, pelo menos às vezes alguém tem que moer milho pro fubá.